Vivendo e aprendendo!
Quarta-feira foi um dia desses...
Saí de casa protocolarmente para minha surfterapia antes de encarar 24 horas de plantão neste São João que, neste ano calhou de cair no meu plantão.
O mar não me parecia muito estranho.
Um cheiro de peixe moído me chamava atenção mas eu julguei ser apenas delírio olfativo.
Um rio caudaloso corria logo à beira.
Daria para dropar se quisesse!
Demorei para entrar e estranhei a ausência de outros longboarders na área.
Quando cheguei ao outside entendi:
O mar estava gigantesco com ondas do tamanho de casas em fluxo contínuo com uma velocidade acima do padrão e arrebentando em explosões!
Na verdade, eu não entrei; fui simplesmente sugado para o outside por uma corrente de retorno que me iludiu fazendo-me pensar que era um super-homem!
Ao meu lado, um gringo ruivo com uma prancha feia que sorriu amarelo e passou a fugir das ondas como o diabo da cruz!
Uma rápida olhada para a calçada na direção da barraca de "russo" me deu idéia do tamanho da encrenca na qual estava metido:
Todos os longboarders mais velhos estavam lá olhando para mim como espectadores de um coliseu marinho!
Oh God!
E tome-lhe a correr das montanhas de água super velozes que se formavam.
Começei a administrar o risco e peguei a quina de uma monstruosa.
A velocidade era absurda e a minha prancha começou a assoviar cada vez mais agudamente enquanto eu me apavorava na mesma medida!
Surpreendentemente, consegui finalizar sem problemas e assim o fiz por mais umas 3 ondas não sem antes passar por verdadeiros momentos de terror enquanto fugia das que não serviam.
Minha hora de sair chegara e eu esperei cuidadosamente a última da série passar e começei a me dirigir para a praia. estava no meio do caminho quando um monstro cinza explodiu a uns dez metros atrás de mim!
Pensei comigo: ainda bem que escapei!
Nada!
Desta explosão foi gerada a espuma mais violenta que já me atingiu num turbilhonamento que me levou ao fundo umas duas vezes sendo que na última a prancha (detalhe: um long!) tocou no chão a pelo menos 3 metros de profundidade!
Agarrrei-me À prancha e subi lentamente para aflorar à tona sob os olhares aliviados dos espectadores do coliseu.
Subi a escadinha, cumprimentei-os, fingi calma enquanto conversava com Djalma e me despedi em direção ao trabalho taquicárdico e com os olhos esbugalhados.
Ao passar por Armação vi ondas imensas quebrando e cheguei a ficar com medo de passar em frente ao Bompreço.
É meus amigos...
Tinha acabado de virar uma página na minha ainda curta história de longboarder.
Passei o resto do dia meio calado e na quinta, com o mar a um terço do tamanho eu simplesmente fiquei congelado no outside vendo a galera se divertir enquanto eu rememorava o dia anterior com um medinho residual e um sorriso de gratidão por quem quer que seja tenha sido o responsável por eu ter saído inteiro com uma história para contar.
Sexta foi divertido apesar da correnteza e o neste sábado (hoje) deixei para trás uma pequena neurose que ameaçava se instalar!
A lição foi aprendida e arrematada por Jaca no seguinte comentário:
"...fugir das ondas é muito ruim, muito ruim mesmo para o nosso psicológico! Se vc estiver correndo das ondas, saia! Do contrário, o seu surf pode regredir meses somente pelo estrago na auto-estima..."
O velho Jaca parece saber o que diz.
Enquanto o fim de semana corre eu me lembro desta quarta.
Inesquecível!
P.S. O gringo ruivo de sorriso amarelo partiu o leash e quase morre se não tivesse conseguido pegar uma onda de peito alguns minutos após a minha saída. Este testemunho foi de Calá, longboarder experiente que ficou no outside quer dizer no outsidewalk (na calçada!).
Em tempo: meu leash está uns 30cm mais comprido!
4 comentários:
Caro Manoel, ler seu relato nos leva a uma intensa reflexão. Principalmente no que se refere a surfar sozinho. Na quarta, dia 17/06, este iniciante a longboarder, vindo almoçar em casa, foi convidado, pelo lindo mar, a pegar umas três ou quatro ondas, no nosso tradicional ponto, antes de retornar ao trabalho. Chegando ao local estava realmente só, mas como desistir do enorme prazer de escorregar nas ondas. Realizado o desejo chega a hora de sair conforme o planejado, usei o espumão como forma de diminuir meu esforço, estava tão perfeito que resolvi surfar e neste momento fui atingido por um outro que me desequilibriou e me levou água, a força foi tanta que eu embolava como se fosse um nada e o pior choque-me contra as quilhas sentindo uma intensa dor na mão direita, quando assumo o controle da situação noto um imenso corte e um mar de sangue. De imediato lembrei que estava sozinho e necessitava sair daquele local. Chegando na areia fui ajudado por uma pessoa que não conheçia a qual colocou meu long em uma barraca e amarrou minha camisa na mão para diminuir o fluxo sanguíneo. Atendido no hospital Aeroporto fui submentido a cirurgia de mão onde ganhei 18 pontos e estou afastado de tudo até hoje. MORAL DAS HISTÓRIAS: NÃO DEVEMOS SURFAR SOZINHOS, ALGO INESPERADO PODE OCORRER. Saudações a todos os longboarders, até a proxima onda...
Fascinante a dscrição do desespero. Exatamente o que sentimos nesses dias de aquecimento global e degelo das calotas polares juntamente com a elevação do nivel dos mares. Isso traduzido quer dizer: Temos que aprender mais ainda com os Brows do CTS e seguir seus sábios conselhos principalmente nesses momentos que acreditamos ja ter visto de tudo. Ontem domingo num momento de lezeira me vi na cabeceira da pista do aeroporto, mas ao voltar ao normal vi que o ruído não era de Boing levantado voo e sim de uma onda gigante (para mim tinha uns 8 m, mas na realidade não passava de 1,2m)que acabara de arrebentar tambem proximo a mim que por pura sorte, tive tempo de pular e cair no meio das espumas tambem. Manellis, amanhã tem mais.
Diante desses depoimentos do Eduardo e Manellis e com a certeza que estão cobertos de razão, hoje não criei a coragem devida para seguir para o Point. O Tank Rapha, dormindo e pelo visto sem sinal algum de vontade de levantar da cama, Manellis entrando em fria, Eduardo recuperando a mão, Fernando ainda em reclusão com o Nandinho, Anchieta em Natal e o CTS sem ninguem na área, então só me restou mesmo assistir os jornais matinais. Mas, Manellis, boas férias, e Eduardo, recupere-se e retorne, agora com mais experiencia. E, Pitanga responda que longboard não serve pra kite.
Dijalma (Netuno), agradeço a vibração positiva, concordo com Manoel quando afirma que passamos a temer as ondas após os acidentes, mas devemos encarar o esporte (estilo de vida é melhor - rsrsrsrs) que amamos. Obrigado a todos e boa viagem para Manoel.
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